segunda-feira, 26 de maio de 2014

programa

Carta aos companheiros presos

José Genoíno, José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha foram condenados sem provas porque fazem parte de uma história que incomoda.


Hamilton Pereira (*)
Arquivo

(Para ser lida em voz alta com os companheiros que chegam à militância...) 

(Brasília, fevereiro / maio de 2014)


A aventura de construir um partido de base popular que viesse a representar de maneira independente os interesses dos trabalhadores na sociedade brasileira, ainda sob a ditadura empresarial-militar imposta ao país pelo golpe de abril de 1964, percorre a esta altura, cerca de três décadas e meia. Se pensarmos bem, tempo relativamente curto, considerados os cinco séculos desde o desembarque dos colonizadores portugueses nesses trópicos. 

Depois das grandes mobilizações sociais catalisadas por S. Bernardo do Campo, no final dos anos 70, e das históricas assembleias do Estádio de Vila Euclides, o 10 de fevereiro de 1980, reuniu, no Colégio Sion, sob os olhos distraídos das velhas elites oligárquicas, vencedoras em 1964 e algum nervosismo das novas elites nutridas pela ditadura empresarial-militar, variadas vertentes dos movimentos populares e sindicais que resistiram a ela para constituir sob a liderança dos operários do ABC um instrumento que organizasse e unificasse sua ação.

Estavam amadurecidas as condições para dar forma a um organismo que representasse as aspirações de uma classe social que estava incluída, como mão-de-obra, no setor de ponta da economia – a indústria automobilística – mas excluída da arena política, que se revelou capaz pelo instrumento das greves, das mobilizações de massas e da ação parlamentar de estabelecer alianças com diferentes setores sociais para por abaixo uma tirania já em declínio. 

reforma política articulada para dividir as oposições à ditadura empresarial-militar percebeu o PT como um acidente, um ovo indesejado na incubadora do general Golbery. O PT foi diagnosticado inicialmente como um incômodo a ser digerido e eliminado pela repressão pura e simples ou pela própria dinâmica do metabolismo institucional da transição pelo alto engendrada por seu principal estrategista. 

Ao forçar as portas daquele sistema político concebido para abrigar as disputas, sob estrito controle da legislação emanada do regime ditatorial, entre os grandes senhores da indústria, das finanças, do agronegócio nascente e dos antigos monopólios de comunicação nutridos pelo regime, o Partido dos Trabalhadores cometeu um crime. 

O crime original de ter nascido

Com voz própria, ainda que desafinada, mas vigorosa, por liberar uma polifonia, àquela altura irreprimível, de reivindicações, desejos, esperanças, agredia com seu timbre dissonante os ouvidos de uma sociedade alfabetizada pelo silêncio. A campanha pelas “Diretas Já”! mobilizou milhões de vozes em torno da proposta do Deputado Dante de Oliveira. Se não venceu de imediato, sacudiu irremediavelmente os alicerces do regime. Com os movimentos sociais em ascensão, sua base primeira, o PT se consolidou como expressão política dos de baixo e como projeto alternativo de desenvolvimento para o Brasil.

A vitória eleitoral de Collor de Melo sobre Lula e o PT, do ponto de vista dos setores conservadores, no segundo turno de 1989, foi exatamente isso: uma vitória eleitoral. Olhando desde o ponto de vista dos trabalhadores: a derrota eleitoral de Lula e do PT em 1989, foi uma derrota eleitoral e, ao mesmo tempo, uma vitória política. Converteu o PT numa força capaz de disputar de forma independente o projeto de desenvolvimento do país. Collor naufragou um ano e nove meses depois de sua posse, sob o peso de forte mobilização popular, particularmente da juventude, e abandonado por seus antigos apoiadores, particularmente a mídia que fizera dele “O caçador de marajás” para fazer frente ao ímpeto das esquerdas lideradas por Lula.
 
O advento do real no final do governo Itamar Franco, produziu uma reviravolta nas expectativas das esquerdas, em 1994. Consolidou na sociedade a vertente conservadora da transição pelo alto. Ampliou as condições sociais e políticas para o avanço do projeto neoliberal com a eleição de Fernando Henrique Cardozo, uma liderança mais confiável para as forças conservadoras do que o intempestivo Collor de Mello. O sinal político que definiu o duplo caráter do governo FHC foi impresso por duas ações: a mobilização dos tanques contra a greve dos trabalhadores da Petrobrás, em maio de 1995 e a largada para as privatizações do patrimônio público. Esse duplo caráter marcou a passagem do sociólogo ao longo dos oito anos do seu governo: repressão econômica contra os sindicatos nos moldes de Margareth Thatcher – e nos momentos de crise, o uso da força simplesmente – e privatizações de empresas públicas. Cavalgando o discurso do êxito do Real e da estabilidade da economia, FHC, utilizando-se de uma vasta operação de compra de votos de parlamentares, emendou a Constituição em seu próprio benefício e obteve facilmente a reeleição para um segundo mandato.     

Passados vinte e dois anos de batalhas ganhas e perdidas, mas, sobretudo ganhas, o Partido dos Trabalhadores liderou a ampla aliança que venceu as eleições de 2002. Levou à chefia do governo central o operário metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, tendo como Vice um empresário outsider bem sucedido, José Alencar. 

O PT cometeu aí um crime derivado: 

Alcançou algo surpreendente. Inconcebível para os de cima e por isso mesmo imperdoável pelas instituições moldadas à sua semelhança: venceu as eleições dentro das regras estabelecidas por seus adversários, os senhores do agronegócio, da indústria, das finanças, dos meios de comunicação e seus partidos. E pôs à frente do país um homem que encarna tudo que aquelas elites políticas tradicionais, herdeiras da cultura da Casa Grande, rejeitam: ele vem do nordeste do país, região identificada pelos de cima, como paradigma do atraso e da dependência; ele vem do mundo do trabalho num país em que as elites descendentes dos senhores de escravos rejeitam o trabalho como coisa para negros e inferiores; ele vem do chão da fábrica, das ruas e não das universidades nem da caserna que produziram os principais dirigentes da nação. Trata-se, portanto de um despreparado, voluntarista, incapaz de perceber a complexidade da tarefa de conduzir um país das dimensões do Brasil e os condicionamentos impostos à sua inserção no contexto internacional. 

Desmentindo os vaticínios dos pretensos ‘formadores de opinião’, esse homem conduziu o país, sob o fogo quotidiano e implacável da mídia de direita, por dois mandatos à frente de um governo que incorporou no seu percurso, além dos seus aliados tradicionais no campo da esquerda, parcela do centro do espectro político do país (PMDB) e mesmo setores de direita pulverizados em representações partidárias de menor relevância. Um governo complexo que produziu modificações profundas no perfil da distribuição de renda do Brasil, combateu a fome e as desigualdades regionais, deu os passos necessários para consolidar um mercado interno de massas, imprimiu um novo ritmo e uma nova qualidade ao nosso desenvolvimento. 

E, a partir daí, renovou o rosto da diplomacia brasileira e afirmou a imagem do Brasil diante do mundo como nunca na história. Reorientou as relações internacionais para uma perspectiva Sul-Sul, sem deixar as parcerias anteriores, Europa e EUA e ampliou-as firmando novas em extensão e qualidade. Apresentou o país como destino seguro para investimentos, afirmou a soberania pagando as dívidas com o FMI libertando-se da condição humilhante, subalterna de nação tutelada.    

Chegou ao fim do segundo mandato apoiado pela maioria esmagadora da população, independentemente do extrato social, do credo religioso ou da filiação partidária.  As descobertas das jazidas do Pré-Sal e a adoção do Sistema de Partilha para sua exploração, liquidaram naquele momento as tentativas de privatização da empresa símbolo da soberania nacional, a Petrobrás estabelecendo um sólido vínculo programático entre o PT e a tradição trabalhista anterior, vigente no período Vargas. Ao encerrar o segundo mandato do Presidente Lula, o PT cometeu um terceiro crime: 

Elegeu uma mulher pra dirigir o Brasil

No país herdeiro da cultura política do patriarcalismo dos coronéis de rebenque, espora e chapelão, do machismo explícito ou dissimulado, elegeu pela primeira vez na história uma mulher para a Presidência da República: Dilma Rousseff. Militante da resistência à ditadura desde a juventude e da reconstrução da democracia depois de cumprir pena nas prisões do regime. Trouxe consigo os sonhos da geração que se lançou à vida pública para enfrentar a tirania e devolver à nação sua perspectiva de retomada do desenvolvimento democrático e soberano, interrompido pelo golpe empresarial-militar de 1o de abril de 1964. 

Os setores sociais conservadores vêm sucessivamente perdendo terreno em todas as frentes onde se trava a disputa política democrática na sociedade. Os partidos que representam esses segmentos reduziram dramaticamente sua representação parlamentar em três pleitos seguidos. E ambos são partidos de atuação caracteristicamente parlamentar. O PSDB que elegeu 99 deputados em 1998 quando foi reeleito FHC, viu reduzida sua bancada a 54 deputados em 2010; e o PFL (Democratas) que em 1998 elegeu 105 deputados ficou reduzido a uma bancada de 43 deputados em 2010. 

Os conservadores se refugiaram nas áreas do Estado que não se submetem ao crivo da cidadania: os órgãos de controle concebidos e constituídos num período em que o país se encontrava estagnado ou com taxas de crescimento inexpressivas, ou no Judiciário, um poder paralítico e oligarquizado. No Brasil, quando um delito é flagrado no exercício de um mandato no Poder Legislativo ou no Executivo, a sociedade já demonstrou a capacidade de removê-lo pelo voto, cassá-lo quando for o caso ou promover o impeachment dos responsáveis, para que sigam vigentes as regras do jogo democrático. Quando acontece um delito no exercício de um poder que só presta contas a si mesmo, o que ocorre? Nada. O judiciário brasileiro se assemelha nesse aspecto a um anacronismo monárquico que subsiste dentro da instituição supostamente republicana.  Protegido pela toga de toda e qualquer aspiração de controle da sociedade. 

No Brasil o cargo de Presidente da Suprema Corte e de Presidente do Conselho Nacional de Justiça, órgão que deveria fiscalizar as ações do Judiciário, são ocupados pela mesma pessoa. Ou seja, ele é fiscal e fiscalizado ao mesmo tempo. Essa distorção produz absurdos jurídicos como foram identificados vários ao longo da Ação Penal 470. Sem um eficaz controle da cidadania abre-se aí um espaço que deriva para o exercício do arbítrio como testemunhamos hoje no tratamento dos prisioneiros condenados naquela ação. O melhor do Brasil ofereceu ao jurista Joaquim Barbosa, a oportunidade de se tornar Ministro e mais tarde Presidente do STF. Conquistou, por seus méritos pessoais, a oportunidade de se afirmar como um Magistrado, escolheu entrar para a história como carcereiro. 

A campanha para arrecadar fundos com o objetivo de pagar as multas impostas pelo STF, no final de 2013, aos companheiros José Genoíno, José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha em função da sentença proferida na ação 470 impressiona por vários aspectos: a solidariedade, a generosidade, a rapidez da resposta, a transparência e revela a extensa rede de apoios que o Partido dos Trabalhadores teceu na sociedade brasileira. Para avançarmos é necessário estabelecer vínculos com os novos Movimentos Sociais, oxigenar as direções nos três níveis: nos Municípios, nos Estados e em nível Nacional. O Partido deve estar atento à transição geracional inevitável que nos alcança. Para que sejamos capazes de manter a necessária sintonia com os novos atores sociais que emergiram a partir das transformações conduzidas pelo próprio PT, ao consolidar sua presença na cena política do país. Aquela campanha de solidariedade aos nossos companheiros foi uma campanha bela como outras belas mobilizações que a militância do PT ofereceu como testemunho ao país nesses 34 anos.

Bela e insuficiente. Porque não basta reagir com grandeza, solidariedade e presteza a uma condenação injusta, sem provas e às provocações de um escroque togado que mede as instituições pelo metro de sua própria conduta mercantil. É necessário para avançar na construção da sociedade democrática que desejamos estabelecer o debate em torno das relações entre as instituições do Estado que construímos e pactuamos na Constituição de 1988 e sua fonte legitimadora: a cidadania.

As elites conservadoras brasileiras, herdeiras dos senhores de escravos, cultivam ao longo de 500 anos de História um surpreendente – macabro – costume no tratamento daqueles que ousam se levantar contra elas: o esquartejamento. A cabeça de Zumbi, líder dos escravos aquilombados em Palmares, foi exposta no Largo do Carmo, no Recife, no final do século XVII; em 1720, Felipe dos Santos teve o corpo atado às patas dos cavalos que o despedaçaram por se recusar a pagar impostos à coroa portuguesa; em 1792 o corpo do Tiradentes foi esquartejado e exposto em postes na estrada que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais; a cabeça de Antônio Conselheiro, durante quase um século, foi exposta à curiosidade pública num museu da Bahia; o mesmo ocorreu com Lampião, Maria Bonita e seus cangaceiros emboscados nos Angicos, em 1938; mais recentemente, durante os anos da Ditadura Militar registram-se casos de esquartejamento e decapitação na Casa da Morte, em Petrópolis e em São Geraldo do Araguaia, no sul do Pará. 

Impedidas pela reconstrução da Democracia de dedicar-se a esse exercício bizarro para calar seus adversários, as elites conservadoras se entregam nessa etapa da História ao esquartejamento moral dos opositores, servindo-se do machado cego de uma mídia corporativa  que escapa a qualquer tipo de prestação de contas à sociedade...         

O Partido dos Trabalhadores não tem avaliado adequadamente a extensão e a profundidade do estrago que sua presença produziu no cenário político, ao longo desses 34 anos, aos interesses dos setores conservadores e – com a projeção que o país adquiriu no cenário internacional – aos interesses dos setores econômico-financeiros dos países capitalistas centrais. Sob a liderança do Presidente Lula, convertemos o Brasil numa das mais importantes economias do mundo. Esse fato determina que os processos sociais e políticos no Brasil deixaram de ser assunto doméstico e que o PT tenha se tornado alvo permanente dos ataques dos setores ligados àqueles interesses. É daí que deriva a fúria com que a mídia conservadora, incapaz de nos derrotar pelo voto, bombardeia o PT, bombardeia a atividade parlamentar, bombardeia a atividade política e seus agentes, os Partidos, buscando criminaliza-los para provocar a repulsa da sociedade e adere a uma perspectiva fascista historicamente conhecida que, ao fim e ao cabo, defende a abolição da Política como forma de resolver os conflitos sociais. 

A mídia de direita se oferece como substituta da falência programática e política dos partidos de direita que sequer têm coragem de se apresentar como tais. Sacrifica dessa forma um dos elementos essenciais do exercício democrático: o direito do cidadão à informação. Se afasta de qualquer vínculo com a verdade factual. O que importa é a versão, não é o fato. Vende opinião como se fosse informação. Em síntese defende de forma implícita – não poucas vezes explícita – a ditadura do grande capital como único mecanismo viável para odesenvolvimento do país.    

O Partido dos Trabalhadores depois de três décadas e meia de protagonismo nas lutas contra a Ditadura empresarial-militar e pela reconstrução da Democracia se encontra numa encruzilhada. Ou aprofundamos o processo de transformação que desencadeamos na sociedade brasileira, produzindo alterações relevantes no sistema político partidário do país e que resultou nos governos Lula e Dilma, nos afirmando como um partido socialista ou sucumbimos a uma espécie de síndrome que acometeu um partido liberal democrático como o PMDB desde a morte do Dr. Ulisses Guimarães: um partido sem projeto nacional, um aglomerado de mandatos incapaz de se por à altura da tradição que construímos e dos desafios para conduzir uma das maiores economias do mundo.    

As eleições de 2014 reúnem, quem sabe, pela primeira vez, as condições de amadurecimento dos novos interesses de classe até agora difusos que vieram ganhando contorno ao longo do período de transição e foram acentuados pela emergência social da última década: para os setores ligados ao capital financeiro, indústria automotiva e segmentos do agronegócio, cujos interesses são expressos no discurso organizado pela mídia de direita, está esgotado o modelo de crescimento com distribuição de renda, inclusão social e combate às desigualdades regionais. Esses setores que ampliaram exponencialmente seus ganhos com a estratégia de crescimento adotada nos últimos doze anos e com a maneira como o Brasil enfrentou a crise de 2008, se inclinam agora, mirando o exemplo europeu, para a radicalização do programa neoliberal de acumulação baseado na redução dos investimentos públicos, no desemprego em massa, na anulação das conquistas alcançadas pelos trabalhadores ao longo do século XX, que alcançaram seu ápice com o “Estado de Bem Estar Social”, sobretudo no pós-guerra.     

Para o Partido dos Trabalhadores o desafio é dar um passo adiante no sentido de não se contentar apenas com o modelo de distribuição de renda em curso. É necessário superar a condição de refém das atuais alianças sociais e eleitorais, ampliar seu diálogo com os setores de classe que emergiram na última década, para por o país em marcha na direção de um modelo que radicalize a democracia, enfrente o problema da distribuição da riqueza como forma de combater as criminosas desigualdades da sociedade brasileira e inclua a agenda da sustentabilidade socioambiental ao novo ciclo de desenvolvimento. 

A radicalização da democracia hoje, no Brasil, se traduz em duas bandeiras: em primeiro lugar a garantia do direito à liberdade informação, negada pelos monopólios da mídia corporativa, constitucionalizando as relações entre a mídia e a sociedade. Apenas isso: pondo em prática o que está assegurado na Constituição de 88; e, em segundo lugar, uma Constituinte Exclusiva capaz de realizar uma Reforma Política assentada no financiamento público de campanha, no voto em lista, que rompa o controle do poder econômico sobre as campanhas eleitorais, principal fonte alimentadora da corrupção do sistema político-eleitoral brasileiro.    

Essa nova etapa exigirá o aprofundamento da política de valorização do Salário Mínimo, pautar o debate e aprovar o Imposto Sobre Grandes Fortunas; implantar o Regime de Partilha na exploração do Pré-sal, que assegure o investimento em educação, portanto, defender a integridade da Petrobrás como garantia de um novo ciclo de desenvolvimento que assegure as condições para o ingresso definitivo do Brasil na sociedade do conhecimento.   

Voltamos para as ruas para encarar a batalha para reeleger Dilma Rousseff, sem esquecer que os companheiros José Genoíno, José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha foram condenados sem provas porque fazem parte dessa História que lhes contei aqui. Entre as novas tarefas que o Partido dos Trabalhadores deverá cumprir nessa campanha está a recuperação da autoestima dos brasileiros e de sua própria autoestima sistematicamente demolidas pela mídia de direita. Ela não suporta a altivez que conquistamos com os governos Lula e Dilma, diante do mundo. A direita brasileira, à falta de um projeto próprio de desenvolvimento para o país, cultiva a subserviência, herdeira de uma visão colonizada e provinciana do mundo. E retomar nossas bandeiras de compromisso com os trabalhadores e os mais pobres para que as elites conservadoras que há alguns anos expressaram publicamente o desejo de “acabar com essa raça”, entendam, três décadas e meia depois, que viemos para ficar. E lembra-los inspirados em Neruda “Para nascer, nascemos”.  


(*) Hamilton Pereira (Pedro Tierra), militante do Partido dos Trabalhadores 

terça-feira, 13 de maio de 2014

constituinte

Igor Felippe, no Escrevinhador
A realização de um plebiscito para a convocação de uma Assembleia Constituinte – que terá a missão de reformar o sistema político brasileiro – surgiu como um raio em céu de brigadeiro no contexto das mobilizações de massa de junho, em discurso da presidenta Dilma Rousseff em rede nacional de rádio e televisão.
O recado dado por Dilma à sociedade brasileira era claro: as demandas apresentadas nos protestos não poderiam ser atendidas sem estourar a trama de interesses sustentada pelo atual sistema político. E que a maioria dos parlamentares do Congresso Nacional não deixaria que uma proposta de transformação da política institucional fosse levada a cabo.
A proposta tocou o nervo dos donos do castelo do poder no nosso país, tanto que houve uma reação violenta da oposição ao governo, dos partidos conservadores da base e dos grandes meios de comunicação. O PMDB abriu guerra ao governo, a oposição passou a fazer acusações de “chavismo” e os jornais fizeram uma série de editoriais contra a Constituinte. Até mesmo parlamentares do próprio PT, já adaptados às características do modelo institucional, rejeitaram a ideia.
A pressão foi tão grande que, depois do tiroteio, a presidenta recuou e deixou a Constituinte em banho maria. No entanto, movimentos populares, organizações sindicais, entidades estudantis viram uma porta entreaberta para ocupar a arena política e passaram a empunhar a bandeira da Constituinte.
“Sem enfrentar os limites constitucionais de nosso sistema político não teremos nenhuma mudança estrutural. Assim como a “Diretas Já” foi uma palavra de ordem que se tornou meta-síntese da luta contra a ditadura, a “Constituinte Já” pode ocupar o mesmo papel”, analisa o dirigente da Consulta Popular, Ricardo Gebrim.
Mais de 170 organizações fazem uma campanha por uma Assembleia Constituinte Exclusiva e Soberana para reformar o sistema político, a partir da construção de comitês populares em todo o país suprapartidários em todo o país.
“Os maiores partidos de esquerda, as principais centrais sindicais, pastorais e movimentos sociais estão participando, o que demonstra muita representatividade nas forças populares organizadas”, afirma Gebrim, que faz parte da coordenação da campanha.
Esses comitês realizarão um plebiscito popular, de caráter informal, na primeira semana de setembro, com uma única pergunta: “Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político?”. Em seis meses de articulação, já aconteceram duas plenárias nacionais, foram realizadas reuniões em todos os estados e criados mais de 300 comitês, entre regionais, estaduais, municipais e locais da campanha.
“O plebiscito popular é uma importante ferramenta pedagógica, pois permite envolver milhares de ativistas. Ela possibilita construir a bandeira da Constituinte Exclusiva como uma meta síntese da insatisfação com o sistema político”, avalia Gebrim.
Quadro político
Mesmo com toda essa construção, de certa forma subterrânea, a proposta da Constituinte parecia hibernar diante dos protestos do “Não vai ter Copa”, da prioridade conferida pelos movimentos populares às pautas corporativas e da falta de iniciativa política do governo e do PT, frente à chantagem e ataques dos setores conservadores da base aliada e da oposição.
A derrota do governo e do PT nas articulações para impedir a instalação da CPI da Petrobras, em um ano eleitoral, acendeu o sinal amarelo. Mais uma vez, a trama do sistema político se voltava contra eixos progressistas do governo, tendo como foco a Petrobras, que é o símbolo para os setores conservadores da política de fortalecimento do Estado e intervenção da economia. Além disso, as pesquisas de opiniãonegativas para o governo e o balão de ensaio do “Volta Lula” deixaram cicatrizes, por demonstrar as fragilidades da presidenta.
Diante dessas pressões, Dilma e o PT passaram a recolocar a bandeira da reforma política no centro do debate, dando maior unidade ao campo progressista e força à campanha pela Constituinte.
Em novo discurso em cadeia de rádio e televisão, na semana passada, Dilma retomou os pactos apresentados em junho e pediu a participação dos trabalhadores na discussão da reforma política. “Sem uma reforma política profunda, que modifique as práticas políticas no nosso país, não teremos condições de construir a sociedade do futuro que todos almejamos. Estou fazendo e farei tudo que estiver ao meu alcance para tornar isso uma realidade”, afirmou.
No Encontro Nacional do PT, uma votação sobre os pré-requisitos para as alianças nas eleições deste ano mostrou a força do Constituinte. Mais de 221 delegados do PT votaram para que o apoio à Constituinte Exclusiva fosse um fator determinante para as alianças. A proposta foi rejeitada por 286, mas demonstrou disposição de setores do partido de dar prioridade à Constituinte, mesmo sob o risco de romper a aliança com PMDB nas eleições.
“O engajamento do PT na campanha foi reafirmado no encontro e consta no texto-base que foi aprovado. O tema sacudiu o plenário e teremos um maior engajamento do conjunto do partido”, afirma o deputado federal Renato Simões (PT).
Perspectivas
A campanha vislumbra colocar a bandeira da Constituinte do sistema político como saída para resolver o conjunto das demandas da sociedade brasileira, especialmente se houver um quadro de explosão de protestos de massa no país. “O desafio principal é atingir a juventude não organizada que esteve fortemente presente nas manifestações de junho de 2013”, coloca Gebrim.
Para o escritor e historiador Lincoln Secco, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo, apenas uma Constituinte pode responder os anseios do movimento de rua de junho. “Só uma assembleia constituinte exclusiva poderia canalizar protestos tão difusos quanto os de junho. Havia uma pauta ampla e contraditória. Por isso, o problema central passou a ser a incapacidade do sistema político absorver e solucionar os  conflitos que explodiram. De um lado, demandas de direita e de outro de esquerda, mas ambas fora das preocupações dos governos e dos partidos”, acredita.
No entanto, ele avalia como uma “incógnita” o estouro de novos protestos de massas neste ano. “Desta vez tanto a esquerda institucional que está no poder quanto os aparelhos  repressivos que ela mal controla estão vacinados. Na segunda vez é sempre diferente. Felizmente, talvez  não haja tempo do congresso promulgar a horrível lei antiterrorismo”, afirma.
Para Gebrim, existe um clima de insatisfação com a Copa pelos gastos considerados exagerados, que tem mexido com o imaginário popular, especialmente com a ação de uma parte da mídia. “Atos ocorrerão, terão grande visibilidade inclusive da mídia internacional. Se esses atos massificarão é algo que depende do acaso, por exemplo, de uma possível repressão, vítimas que despertem a solidariedade. Qualquer prognóstico sobre a dimensão dos atos, neste momento, é precipitada”, pontua.
Com o fortalecimento da proposta da Constituinte e o ensaio de uma reação política do governo e do PT, tendências da esquerda petista promovem um ato em defesa da convocação de uma Assembleia Constituinte Exclusiva e Soberana para o Sistema Político neste sábado em São Paulo.
“Chega desse Congresso balcão de negócios. O Supremo  Tribunal Federal prova a cada dia que está a serviço das  elites. Essas instituições não nos representam.  No Plebiscito Popular de setembro, exigiremos uma Constituinte  Exclusiva e  Soberana que  faça a reforma política, para abrir caminho às  aspirações populares. Não há outro meio!”, diz o manifesto de convocação do ato, que reúne assinaturas de petistas e apoiadores que atuam como parlamentares, dirigentes de movimentos sociais, na universidade e militantes de base. Será que o PT está retomando a iniciativa política e se engajará nessa campanha?
Segundo Renato Simões, o partido tem uma estrutura organizativa grande e lenta, mas a campanha começa a entrar na pauta dos diretórios municipais e zonais, o que dará uma grande capilaridade aos comitẽs. “O plebiscito pela Constituinte é a única campanha com um eixo de massa que o PT pode se engajar”, afirma.
“A campanha pela Constituinte é um balão de ensaio necessário. Se der certo, a maioria do PT entra. Senão, fica restrito à esquerda petista. Foi exatamente assim na campanha do impeachment de 1992. Mas lá o PT era oposição e foi mais fácil radicalizar”, avalia Secco, que é filiado ao partido e autor do livro “A História do PT”.
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quinta-feira, 1 de maio de 2014

pererê

mirution diutnev
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O que o jocaim está fazendo é uma tremenda molecagem. ´
e coisa de moleque traquinas. Ele interpreta a Constituição como um moleque. Não existe mais lei, direito, bom senso,senso comum, racionalidade, é coisa de moleque. Só ele sabe, só ele conhece. Ele já ofendeu o legislativo, o executivo e o próprio judiciário, chamou todos os colegas do supremo de fanfarrões infantis. Moleque é ele, fazendo molecagens com coisas seríssimas, como a vida e o destino de uma nação. Emocional e moralmente ele ainda não atingiu a idade da razão. É um negrinho brincando de saci pererê. O saci pererê não tem uma perna, ele não tem a coluna. Vive saltitando em pontos inconstitucionais e ilegais. Acho que vai aproveitar a estátua da justiça de olhos vendados pra brincar de “cabra-cega” com os colegas brincalhões do supremo, e a vítima pode ser você e o destino da nação. O jocaim é o saci pererê na história do Brasil. Brincando com coisas sérias e vitimando cidadãos aos milhares.

pereê

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